Frequentemente, a
(delicada) pergunta: "-Não me leve a mal, mas tenho percebido que os
veganos fazem questão de comer coisas com nomes de produtos de carne, como
quibe, linguiça, carne de soja, bife de soja, salsicha.... Não há aí uma
incoerência? Seria mais lógico se buscassem outras texturas, comessem cenoura e
alface, e não PVT, PTS, essa gama de produtos de soja com textura próxima à da
carne."
Nessa pergunta está
embutida provocativamente uma "acusação", a de que vegano é um amante
da carne e que busca substituí-la com os mais diversos simulacros, intentando
saciar-se no "me engana que eu gosto", uma prova de que o ser humano
é carnívoro.
Essa lógica torta comete
alguns esquecimentos propositais, tudo com a finalidade de brincar de snooker.
Vamos, pela enésima vez,
considerar que fazemos o que queremos ora bolas!) e que esses nomes (linguiça,
hambúrguer, salsicha) não são pertinentes à carne. Onde foi que li? Se está
enrolado é linguiça/salsicha, se achatarmos vira hambúrguer e se fazemos
bolinha vira almôndega, e isso com respeito a qualquer ingrediente. É tão
simples o argumento que o reproduzi aqui, muito grato a quem o elaborou. Essas
palavras não pertencem ao mundo carnívoro, que delas tenta apropriar-se para
jogar sinuca com os veganos que considerem presas mais tranquilas de sua verve,
embora tosca. Vamos devolver essas palavras aos dicionários e com o significado
que lhes deu meu amigo anônimo.
Por outro lado, e se
assim fosse?
Veganos são renunciantes
radicais que, em um heroico dia, abriram os olhos para a realidade, perceberam
o que se faz neste planeta e se recusaram a participar da matança. Esse é um
dia heroico porque é o dia de contrariar a cultura em que estavam mergulhados
há anos, quiça por toda sua vida, longa ou não, e seria natural que buscassem
texturas que lhes demonstrassem que a renúncia é pífia. Mas muito mais do que
isso:
Veganos são ativistas de
uma causa que informa,a quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir que não há
necessidade de bichos mortos para satisfazer os prazeres dos mais telúricos
sabores. Vegano não é santo, vegetariano não é um ser superior, mas apenas alguém
que se abriu para outros níveis de consciência. Da consciência decorre a
responsabilidade.
Assim sendo, bem
aventurados os simples, os que não têm a consciência do que fazem, pois nenhuma
responsabilidade lhes é cobrada. Da inconsciência e da ignorância vem sua paz,
efêmera paz que satisfaz apetites, destrói o planeta e inviabiliza o futuro.
Carne vermelha não pode?
Pode, mas eu não quero.
Peixe pode, não pode?
Pode, mas eu não quero.
Pode o que quisermos,
mas o que queremos depende do grau de consciência que alcançamos e do amor que
de nós emana em direção a todos os seres do Universo.
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