16 março, 2014

DESCOMEMORAÇÕES PARA O GOLPE DE ESTADO DE PRIMEIRO DE ABRIL

Vivi os acontecimentos golpistas de 64. Se era jovem em demasia para compreender-lhe os antecedentes, percebia claramente o que se passava na cabeça das pessoas da classe média baixa, sempre preparada para macaquear os anseios da burguesia mais bem situada, seu modelo heroico.
Depois, anos a fio, acompanhei suas consequências. Eu as sofri, desde a mordaça às incômodas detenções e infames interrogatórios. 
Deixemos, contudo, de choro, pois isso é individual e ao caso não vem. Importa, isso sim, aquilo que a sociedade vivia. E isso não era banquetear-se com brioches.
Hoje, no início das tais "descomemorações" (gostei da inventividade desse nome) do golpe de primeiro de abril, astuta e infantilmente colocado em 31 de março, leio tantas bobagens e desinformações quantas são as versões dadas ao que se passou. Os mais bem aquinhoados jornalistas unem-se ao mais golpista dos taxistas de terceira linha para anunciar bravamente suas verdades incomensuráveis: negando ou apoiando os golpistas de 60/70/80, escrevem e dizem absurdos que uma criança de sete anos, recém chegada de Vênus, receberia com sarcasmo, tal a falta de sintonia com a razão.
As pessoas não deveriam se esquecer do discurso dos golpistas (e vou ficar por aqui, prometo!), especialmente na parte em que prometiam livrar completamente o Brasil dos corruptos (justo quem - dos generais aos coronéis - silenciaria qualquer denúncia de roubalheira nos anos que se seguiram), promessa que fez levantar de suas camas até enfermos terminais (patriotice ingênua!) para aplaudir a passagem dos tanques de guerra. Sim, a sociedade, à exceção da academia mais bem informada e politicamente engajada, viu com olhos brilhantes de emoção a cortina negra da opressão toldar nosso crescimento moral, nosso processo educacional, nosso desenvolvimento cidadão. É aí que o perigo mora.
Não vamos bancar aqui os sectários dispostos a tudo para manchar a história do golpe de Estado, até porque nem há espaço nessa capa para mais manchas. Houve, sim, desenvolvimento nas comunicações, na telefonia, na compreensão geopolítica da nossa extensão territorial, na afirmação relativamente independente no concerto das nações do mundo.
Quanto, entretanto, isso nos custou?
Nossa população, às vezes, semelha-se a uma malta destemperada à espera de salvação fascista, tal o grau de desinformação criado pelos nefastos "atos institucionais" (há quem só saiba contar até 5) que se seguiram. 
Conscientes da péssima educação que lhe é oferecida, nossa juventude aprecia com desdém a copa frondosa dessa árvore de desmandos, esquecendo-se de lhe desvendar as raízes.
E, pelo visto, nem adianta confiar nos historiadores e acadêmicos (tão lustrosos!) de plantão, pois suas verdades não correspondem aos fatos.
Às descomemorações, pois! Eia! Eia! Que o pior - parece -  ainda nem começou.
Às

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